VISITA
A janela, o muro em frente,
Um galho verde pendente,
A sombra fresca da manhã.
A casa azul,
Frente para o poente,
O silêncio calmo dos chinelos da vovó
Arrastados lambendo os batentes.
— Há quanto tempo, Homem, entre:
A meninice é eterna,
E o eterno vive para sempre!
HADAD, Jamil Almansur, org. História poética do Brasil. Seleção e introdução de Jamil Almansur Hadad. Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio Abramo. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943. 443 p. ilus. p&b “História do Brasil narrada pelos poetas.
HISTORIA DO BRASIL – POEMAS
REVOLUÇÃO DE 1817 – CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
PERNAMBUCO
Depois, um dia, quando o luso braço
Férreo, pesado, denegrido,, informe,
Tombava em cheio de Brasil nas asas,
Cortando os voos ao país enorme,
Rasgou-se em flamas popular cratera,
E, aos virgens raios dessa grande luz,
Republicana batizou-se a terra
Dos horizonte tropicais, azuis.
E assim, dos seios da viril cidade,
Desse Recife de espartana glória,
Ao fogo irrupto dos intensos brios,
A liberdade reboou na história.
A raça hercúlea dos varões pujantes
Em galhardias despertava então,
Partindo os ferros nos revoltos pulsos
As gargalheiras atirando ao chão.
Era um lampejo de esperança augusta,
Uma alvorada de fecundos brilhos,
Que nos mostrava do progresso as portas,
Da independência clareando os trilhos;
Era um povo a multidão ruidosa
Quebrando as tábuas da profana lei;
Era o direito que enxotava o crime;
Era a colônia que abolia o rei.
E já do tempo nas hiantes fauces,
Que engolem mundo mastigando ossadas,
Ia rolando como um fundo abismo
O negro espectro das visões passadas,
Quando sinistra reação o impele,
Anteu medonho que respira o mal,
Por toda a parte semeando a morte
Em labaredas de um furor brutal.
E ei-lo que, aos botes, se arremessa uivando
Das profundezas ao torvado pego;
Ei-lo que volta das entranhas negras
De um satrapismo desvairado e cego;
Ressurge o trono, constitui-se a alçada,
O pelourinho funciona, ó Deus!
E inda em nossa alma, Pernambuco, ó mártir!
O eco reboa dos suplícios teus.
Cevado o monstro na carnificina
De brasileiros como o padre Roma,
Anos mais tarde já por terra o jugo
Dos portugueses, Pernambuco assoma.
E o mesmo sempre dos febris arrancos,
Soltando o voo da libertação,
Empunha o sabre que reluz na arena,
E iça a bandeira da federação.
Faz-se o bloqueio e restaurado cetro,
Lava-se o escudo de legalidade
No puro sangue de Caneca e outros
Que a bala arroja na posteridade.
Mas a província de altanados voo
Recobra alento e, senhoril, vivaz,
Há cinco lustros irrompeu de novo
Toda incendida de uma crença audaz.
(MUSA CÍVICA – Xavier Pinheiro -
Leite Ribeiro & Maurilio, 1920)
Exército Imperial do Brasil, sob comando do almirante[1] britânico Thomas Cochrane, ataca as forças confederadas no Recife. Províncias de Pernambuco, Ceará e Paraíba -Data 2 de julho a 29 de novembro de 1824 —
Fonte da imagem: https://pt.wikipedia.org/
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